A eliminação deliberada dos banhos públicos constituiu um acto de higiene social e moral. Longe de se dedicarem em exclusivo à limpeza pessoal, estes estabelecimentos ofereciam também um determinado número de serviços que as autoridades civis consideravam uma ameaça aos princípios morais das cidades. O vinho e as refeições eram servidos aos banhistas dentro ou fora de água.
A crença na permeabilidade da pele e na ameaça que os banhos representavam para a saúde em geral continuaram, ao longo do século XVII, a fornecer aos textos médicos uma grande variedade de argumentos sobre os efeitos nocivos dos banhos públicos e os perigos da água.
No século XVII, os efeitos debilitantes da água quente eram universalmente reconhecidos. Acreditava-se que os poros dilatados permitiam a saída dos humores do corpo, causando a perda de forças vitais, a fraqueza e outras doenças ainda mais graves, como a hidropisia, a imbecilidade e o aborto. Entre as precauções a ter depois do banho costumava geralmente um descanso na cama, que em alguns casos poderia durar vários dias.
Passou a ser dada maior atenção às partes do corpo que se apresentavam descobertas: a cara e as mãos. Muito embora a água continuasse a ser utilizada, para as abluções matinais destas duas partes do corpo, no século XVII era considerada própria somente para enxaguar a boca e as mãos, mas apenas desde que lhe tivesse sido adicionado vinagre ou vinho para atenuar os seus eventuais efeitos nocivos. Os livros de civilidade desaconselhavam especialmente o uso de água na cara porque se acreditava que prejudicava a visão, causava dores de dentes e catarro e fazia com que a pele ficasse demasiado pálida no Inverno e excessivamente escura no verão.
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As advertências sobre os efeitos dos cosméticos a longo prazo não constituíram o único argumento utilizado contra a maquilhagem. As mulheres que se pintavam eram também acusadas de «alterarem o rosto de Deus», (não era a humanidade feita à imagem do senhor?) no seu A treatise against Painting and Tincturing of men and woman (1616), Thomas Tuke interrogava-se como eram as mulheres capazes de rezar a Deus «com o rosto que ele não reconhece! Como podem elas pedir perdão quando os seus pecados estão gravados nos seus rostos»? Por detrás de muitas críticas à pintura estava também o receio masculino da decepção. Não seria a beleza jovem que eles tanto desejavam talvez uma velha feiticeira ou um corpo mimado pela doença, habilidosamente camuflados! Para além disso os que faziam cosméticos eram muitas vezes suspeitos de se dedicarem às artes mágicas, uma vez que muitas receitas continham encantamentos que deveriam ser recitados durante a preparação e ingredientes como minhocas, urtigas e sangue.
Em 1603, quando os Stuart ascenderam ao trono de Inglaterra, refutou-se com força o antigo argumento «alterar a imagem que Deus nos deu» com uma lógica muito do tempo. Se uma mulher fora criada em estado de perfeita beleza, o que é que tinha de mau tentar vencer os defeitos trazidos pela queda de Adão e Eva?
Segundo uma balada popular, o rei Jacobbo I «tinha na sua corte um rebanho de criaturas pintadas». Os homens costumavam mostrar-se com leques, luvas perfumadas e caracóis atados com fitas de seda. A indústria cosmética floresceu. Da Itália vinham perfumes e «joaninha», uma tinta vermelha brilhante feita de corpos secos destes insetos – fêmea esmagados. A Índia produzia curcuma amarela e almíscar. A Holanda, óleo de jasmim de alperce e pós de Paris. Os fabricantes de vidro lutavam ardorosamente pelo mercado de espelho.
Com o século XVII mais adiantado, os cosméticos tornaram-se ainda mais extravagantes. Pensa-se que as atenções com que o rei Carlos II brindava a cosmética, Nell Gwynn inspirava a mulher do seu tempo a imitar a exagerada maquilhagem teatral. Carlos estava cansado com uma beleza Portuguesa, Catarina de Bragança, cuja pele lamentavelmente, não estava nada na moda, pelo escura que era. As caras continuavam a ser pintadas de branco, os pómulos a ser tingidos de vermelho e as sardas e sinais tapados com remendos em forma de estrela e de meia-lua. Ainda se utilizavam máscaras em público. Quando Carlos e a sua corte voltavam do exílio na França, levavam com eles as modas parisenses. Em 1665, o doutor inglês Thomas Geamson publicou o primeiro guia do enfeite cosmético: embelezamentos artificiais ou as melhores instruções artísticas para preservar ou conseguir a beleza. Quando aumentou o preço dos cosméticos, as próprias mulheres passaram a fabricá-los, utilizando por vezes substâncias tóxicas que estragavam permanentemente belas caras.
Havia charlatães que vendiam loções miraculosas. O barão de Rochester, químico amador, armava-se em médico e prometia que, com uma poção sua, cujo segredo vinha de Itália, as mulheres de quarenta pareciam ter apenas quinze. A sua publicidade advertia que «pode-se olhar para a boca de um cavalo e a cara de uma mulher… e saber a idade que têm, mais ano menos ano». Garantia que os seus remédios não estragavam a cútis e que libertavam a pele de «pontos, sardas, borbulhas e marcas de varíola».
Os penteados das mulheres, que já eram altos no início do século XVII cresceram ainda mais em tamanho, por volta do fim do século. Qualquer caracol ou madeixa tinha um nome. Pequenos caracóis junto às orelhas eram chamados «confidentes». Crève-coeurs (os destruidores de corações) designavam caracóis pendurados na nuca. As madeixas pendentes nas têmporas eram designadas por «favoritas». As mulheres moldavam o seu cabelo e o cabelo de outras pessoas em estruturas de arame «toucados». Eram necessários enchimentos, óleos e uma gordura brilhante «brilhantina» para manter os cabelos elaborados e estilos no lugar.
Um estilo popular, o Fontage, surgiu por acidente. Enquanto cavalgava com Luís XIV, a sua amante, a duquesa de Fontage, teve a infelicidade de o seu penteado se desmanchar. Atou, então, o cabelo com uma liga, num improviso que deleitou o rei. Em breve, as mulheres mais badaladas da França usavam torres desgrenhadas de cabelo com fitas, imitando o penteado improvisado pela duquesa. Fonte: http://historiadaestetica.com.sapo.pt/extdocs/seculo_%20XVII.htm
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